Carnaval é realmente uma época fantástica para os felizes foliões brasileiros na festa da Sapucaí com suas plumas e paetês (e outros itens da mais alta pederastia), para as milhões de felizes criaturas que juntas se amontoam num lugar onde não caberiam nem a metade, dançando e se reproduzindo ao som de músicas românticas como a Dança da Manivela.
Ah, o carnaval, a estação da mulher-melancia, mulher-melão, mulher-abacate e, por que não, mulher-açai-pequeno-puro-batido-com-morango-sem-granola-porfavor.
Uma época sem regras onde só a alegria e o assalto à mão armada imperam. Sim, são milhares de turistas assaltados todos os anos com suas câmeras e chapéus Panamá, tão distraídos que acabam nem vendo a mangueira entrar.
Porém, sejamos justos, ainda existe o saudoso carnaval de salão em que amantes à moda antiga se embalam ao som de nostálgicas marchinhas como Olha a Cabeleira do Zezé, Maria Sapatão, O teu Cabelo não Nega e, peraí, isso tudo é uma droga também.
Vocês já repararam na escrotice dessas músicas? Uma chama o cidadão de baitola só porque tem cabelo comprido e incita a homofobia gritando: “corta o cabelo dele, corta o cabelo dele”, a outra escracha a opção sexual de uma moça revelando que “de dia é Maria e de noite é João” e a última chega a ser nojenta de tão racista ao dizer: “o teu cabelo não nega mulata porque és mulata na raça e na cor mas como cor não pega mulata, mulata eu quero o teu amor”.
A lógica de achar essas músicas engraçadinhas é a mesma de achar um velhinho bonitinho, por mais que ele tenha sido ladrão, seqüestrador, pedófilo, assassino, fã do chiclete com banana quando mais novo, agora que é velho todo mundo acha uma gracinha. Mas não é.
Aí você amigo ou amiga do meu Pau, ajoelhado e com os olhos rasos d’água enfim suplica: ‘então não existe esperança alguma para o carnaval’?
Eu vos lhes digo: rezem ao santo ipod pela troca da Claudia Leite por Beatles, invoquem a milagrosa cerveja que reduz o vosso senso crítico e, enfim, reverenciem o milagre da sala de cinema própria.
Amém.
